Pessoal, para começar nossas trocas de idéias vou tratar deste texto de política do filósofo escocês David Hume.
A primeira coisa que precisamos saber para poder entender com clareza o pensamento de qualquer autor é saber qual é a dele? Qual o objetivo do autor com esse texto? Que perguntas ele está tentando responder?
Nesse trecho de seu livro que é objeto de nosso estudo, Hume está procurando responder às perguntas: Qual é a fonte da obediência civil? ou em outras palavras: Por que diabos nós obedecemos aos nossos governantes? Por que estaríamos agindo errado se nos rebelassemos contra eles? Por que temos o dever moral de nos submeter a essas autoridades? Estando cientes disso podemos passar para a análise do texto.
Ora, Hume nesse texto mantém um intenso diálogo nesse texto com as idéias propostas pelos pensadores da política, principalmete com Hobbes e Locke.
Tanto Hobbes, como Locke, defenderam a tese de que a origem do dever da obediência civil, da obediência ao governo estava fundamentada no "contrato social". Em um momento qualquer da história os homens de uma sociedade teriam se reunido e decidiram em comum acordo, ceder todos ou parte de seus direitos a um governante ou assémbleia, e assim instituíram o governo ou Estado. Ora, todos nós sabemos que não é justo, não é correto deixar de cumprir as promessas e os acordos estabelecidos. Portanto, a fonte de nossa obrigação seria uma promessa, a promessa feita no momento em que foi estabelecido o "contrato social".
No entanto, Hume procura ir além dessa explicação, ele procura um outro argumento a favor da obediência aos governantes, vejamos em suas próprias palavras:
"O que afirmo é que, embora o dever da obediência civil se baseie inicialmente no da obrigação das promessas, e seja sustentado durante algum tempo por essa obrigação, tão logo as vantagens do governo são plenamente conhecidas e reconhecidas, ele imediatamente cria raízes próprias, passando a implicar uma obrigação e autoridade originais, independentes de qualquer contrato."Para Hume, o governo é uma invenção muito vantajosa. Como os homens sempre precisaram para conviver bem em sociedade de cumprir as três leis fundamentais (parágrafo 3), entre outras obrigações, a instituição de um poder encarregado de fazer leis e punir os infratores era indispensável para facilitar a organização da sociedade. Hume concorda com Hobbes que o homem é naturalmente mal, que prefere muitas vezes atender seus interesses e prejudicar o interesse público, por isso a formação de um poder coercitivo é inevitável para manter os súditos "na linha".
Veja, assim que começam a conviver sob a tutela do Estado, os homens logo percebem que isso é vantajoso, seriamos obrigados a permanecer obedientes ao Estado porque isso é do nosso interesse:
"Constato que esse interesse consiste na segurança e proteção de que desfrutamos na sociedade política, que nunca poderíamos alcançar quando inteiramente livres e independentes. Como o interesse, portanto, é a sanção imediata do governo, um não pode durar mais que o outro;"Você me diria, por que? Como podemos afirmar que as pessoas pensam assim? Como afirmar que é do interesse das pessoas continuar a serem governadas, se muitas vezes elas expressam insatisfação com relação a seus governos?
Para o autor a constatação desse fato se encontra na consciência dos homens. Ele pergunta: Se os súditos estão realmente descontentes com o governo, por que não se rebelam? E chega a conclusão: Se continuam a obedecer só pode ser por interesse próprio ou por interesse público. Eles devem pesar as vantagens e desvantagens do governo e chegam a conclusão que é melhor obedecer. E, mesmo se existem algumas pessoas que já não veêm naquele poder, um poder legítimo, essa concepção não dominou o pensamento geral dos homens. E para o autor isso faz toda a diferença. A obrigação de obedecer permanece, porque:
"A opinião geral dos homens tem alguma autoridade em todos os casos; mas, no caso da moral é absolutamente infálivel."Conclusão: a fonte da obediência civil é dupla. De um lado, obedeço porque é necessário cumprir as promessas feitas (dever privado), e de outro lado, obedeço porque a opinião pública ainda considera o governo como vantajoso, senão já haveria se rebelado (dever público).
Essa é apenas uma das idéias do texto e ainda precisa ser discutida mais a fundo. Tenho muita coisa ainda pra falar a respeito desse assunto. No entanto, eu não desejava iniciar com um texto muito longo e cansativo. Prefiri expor esses primeiros pontos para que após os comentários dos colegas possamos dar prosseguimento aos poucos na compreensão do texto.
Vamos trocar idéias.
Abraços
Oii Mike...Achei muito interessante seu texto, eu já li ele e comecei a fazer um fichamento, e seu texto contribuiu muito.... =)
ResponderExcluirÓtima idéia do blog!!!
Mike, em primeiro lugar parabéns pela iniciativa do blog, creio que será essencial para conseguirmos debater os textos e contribuir para o entendimento das disciplinas.
ResponderExcluirAcho que esse seu texto sobre o Hume, conseguiu deixar claro as idéias do autor. Porém, creio que devemos ir mais longe.
1) A primeira pergunta que devemos fazer para entender o pensamento de um autor, não é “qual é a dele?”, mas sim em que momento histórico ele se situa.
2) O autor se refere a sociedades sem governo, apenas quando essa é “inculta” e desprovida de bens de valor. Ainda acredita em leis que são anteriores ao governo, que são: “estabilidade da posse”, “transferência por consentimento” e “cumprimento das promessas”. Se para o autor essas são “leis fundamentais”, não fica difícil perceber qual o seu verdadeiro objetivo.
3) Agora, não podemos negar que realmente Hume supera o contrato social. É mais razoável entendermos a obediência pelo “interesse” do que pelas “promessas”. Porém ele ainda está muito longe de dar uma resposta definitiva. Qual interesse? Interesse de quem? Interesse de qual sociedade? Não podemos esquecer que todas as sociedades em que existe a divisão do trabalho terá internamente interesses diferentes.
Alessandro, obrigado pelos comentários e questionamentos de altíssima qualidade. Acho que o que você falou só acrescenta para o entendimento das questões.
ResponderExcluir1)Realmente, uma das maneiras de entender, o autor é fazendo uma crítica externa ao texto, ou seja, analisando o momento histórico que gerou o mesmo. Fez bem em ressaltar. No entanto, é possível também fazer uma "crítica interna", na qual podemos apenas interpretar ou se quisermos críticar o autor com base unicamente em seu próprio texto. Normalmente as duas formas são utilizadas e requisitadas na acadêmia, e acho importante exercitarmos as duas.
2)Não arriscaria pensar que sei qual era o objetivo dele quando defendeu essas idéias, mas sabemos que teve consequências. Isso é inegável.
3)Concordo totalmente. A resposta que ele dá está longe de ser razoável ou definitiva. E nesse ponto você tenta fazer uma crítica interna, opõe-se à idéia dele sem ter que evocar o momento histórico como argumento, mas é possível desenvolver ainda mais essa crítica.
Oi Gente então que bacana está este blog heim!! estou bem atrasada neste percurso de expor minhas impressões, mas gostaria de postar algo aqui como faço??
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