Por: Alessandro R. Chaves
Pessoal, vou contribuir para o nosso blog com um texto sobre a obra O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, de Lênin – na verdade trata-se da introdução de José Paulo Neto. Porém, não posso deixar de mencionar que tenho grande afinidade com esse autor (Lênin) – tanto em suas reflexões teóricas, quanto em sua tática partidária e, é claro, em sua prática revolucionária que foi de fundamental importância para a Revolução de 1917 – o que me deixa passivo de erros. Certamente os colegas vão se atentar quanto a isso.
Em primeiro lugar, em linhas bem gerais, é necessário compreender o momento histórico do qual estamos nos referindo, ou seja, última década do século XIX na Rússia (Europa Oriental); mas não podemos ignorar o que está acontecendo – ou aconteceu – nos países da Europa Ocidental (Inglaterra, França e Alemanha, principalmente). Nessa parte da Europa (a parte ocidental) o capitalismo consegue avançar e se instalar em proporções nunca antes imaginadas pelo homem do século XIX, e consequentemente avança também o conflito entre proletários e burgueses; é no interior desses conflitos que começam a surgir os partidos social-democratas (comunistas, representantes da classe trabalhadora).Percebe-se que nos países em que o capitalismo se torna sistema dominante, o resutado é uma sociedade urbana diferente da forma rural de tempos anteriores.
É no seio dessa sociedade, onde o capital já é predominante e os conflitos estão cada vez mais nítidos, que Marx e Engels irão desenvolver suas teorias. O que essas nações (em alguns casos, cidades) têm em comum, é que todas – com suas particularidades – seguiram o mesmo processo histórico – entenda-se, feudalismo, capitalismo, de sociedade rural à sociedade urbana, e que para chergar ao próximo passo (para os marxistas, o socialismo) deveriam, essas sociedades, possuírem um alto grau de desenvolvimento das forças produtivas, entre outras complexas coisas.
O fato é que na Rússia, as coisas não estavam acontecendo dessa forma. Em pleno o final do século XIX, a Rússia era um país com enormes caracteristicas feudais, ou seja, uma sociedade ainda rural; tanto que " o problema que se colocava, em primeiro plano, na discussão socialista russa, não era o das premissas do socialismo: era o das premissas do capitalismo". Porém, os acontecimentos no ocidente – 1848 e 1871, principalmente – dão impulsos para movimentos anti-autocrátas na Rússia dos Tsar(es). Outro elemento de extrema importancia, é que em 1894, surge o 3° livro de O Capital de Marx, que irá tratar da questão agrária.
O ano para compreendermos o populismo russo é o de 1861. Nesse ano o governo autocráta elaborou reformas no campo que puseram fim a servidão. O resultado foi um grande número de camponeses que agora desfrutavam da condição de "liberdade". Porém esses indivíduos, agora "livres", não possuíam mais seus meios de subistências; a grande esperança dos que se encontravam nessa situação era o de integrar o MIR – cooperativa de camponeses – que desempenhavam um papel importante naquele momento.
O surgimento do movimento populista russo se dá nessas condições, significa na verdade "ir ao povo". Intelectuais da cidade viam no campo – e no MIR – o local onde estavam postas as condições para o socialismo. Pretendiam não passar pelo capitalismo, o objetivo era sair de uma situação muito próxima ao feudalismo direto para o comunismo. Os camponeses iriam desempenhar o papel do proletáriado no processo revolucionário.
Para escrever O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, e consequentemente se opôr ao populismo, Lênin realizou uma série de pesquisas, recorrendo a bibliografias, a dados da época e a uma extensa pesquisa empírica. Não podemos esquecer que as conclusões de Lênin, não brotam de sua mente, são resultados de uma análise concreta da introdução do capitalismo na Rússia. A crítica que sofrem os populistas – que são chamados de "anticapitalistas românticos" – nascem da incapacidade desse movimento de entender a sociedade russa em sua totalidade.
Pensavam, os populistas, que não haveria mercado interno para o desenvolvimento do capitalismo, pois o campesinato, nas precárias condições que se encontrava, não seriam consumidores. Lênin, atento leitor de Marx e conhecedor da realidade russa, já apontava que "não é a capacidade de consumo que é decisiva, e sim o grau de consumo produtivo, da demanda de sua produção".
De fato não era necessário para a implantação capitalismo que os camponeses viessem a ser um mercado consumidor. Para o capitalismo, era necessária condições para sua reprodução (as aulas de geografia certamente são de grande valor para entender esse fenômeno). Além de ter a oportunidade de "proletarizar" as massas de "camponeses livres".
O resultado da pesquisa de Lênin consegue identificar que o capitalismo já é um fato na Rússia (inviabilizando a teoria dos populistas). De forma lenta, ainda "travado pelo antigo regime", mas já produzindo conseqüências notáveis na sociedade russa, inclusive no campo; onde já ocorre, segundo o autor, uma "desintegração do campesinato" devido a interesses conflitantes.
Vale ressaltar que o movimento populista foi de grande importância para o desenvolvimento do socialismo na Rússia, esse movimento só se viu limitado por não conseguir compreender o movimento real da sociedade russa. Compreensão que Lênin teve – segundo o historiador iugoslavo Pedrag Vranic, a obra do revolucionário russo, permite "examinar melhor que todos os outros marxistas, o movimento real da sociedade russa e a sua estrutura – do que resultam as suas lúcidas avaliações das diversas situações históricas concretas".
Por fim, nas palavras de José Paulo Neto, cabe mais uma vez apreciar o método de Lênin, dizendo que "não se trata, neste livro, de "aplicar" um método preciso – no caso, aquele elaborado por Marx – a uma dada realidade. Antes, o procedimento leniniano consiste, a partir desse método, em agarrar a realidade de modo tal que a sua particularidade não resulte subsumida no reducionismo inerente às instâncias teórico-metodológicas".
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