quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã

Por: Mike Martins

Pessoal, decidi postar aqui no blog a primeira parte do trabalho do meu grupo sobre o texto do Engels citado acima, para quem quiser dar uma olhada e preparar-se para a discussão do seminário que ocorrerá no começo de junho.
Obs: Esse não será o texto que entregaremos para a sala no dia do seminário. Entregaremos um resumo bem menor contendo breve explicação sobre os tópicos da discussão.

Friedrich Engels: Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (Capítulo IV)
1.      O pensamento marxista: algumas palavras sobre suas concepções básicas de análise
Como dissemos na introdução, o objetivo desse texto de Engels é expor e defender a tese de que a filosofia, tal como a conhecemos historicamente, estaria com os dias contados. Para isso, recorre ao método materialista dialético histórico, argumentando que essa seria a visão de mundo que tenderia a se impor no futuro. Essa concepção de mundo, quando aplicada na análise das questões da natureza, da história, da política, do direito e da religião, mostraria no final das contas, o quanto estava superada a antiga filosofia. Os processos estavam desvendados, os encadeamentos reais dos fatos foram descobertos, o mundo real, a natureza e a história eram agora conhecidos na sua forma objetiva por essa ciência. Nas palavras do próprio Engels, a corrente marxista:
“Também esta corrente separou-se da filosofia hegeliana através da volta às posições materialistas. Isto é, decidindo-se a conceber o mundo real – a natureza e a história – como ele se apresenta a todo aquele que o aborda sem quimeras idealistas preconcebidas; decidindo-se a sacrificar, implacavelmente, todas as quimeras idealistas que não concordassem com os fatos encarados estes em seu próprio encadeamento e não numa concatenação imaginária.”
Para realizar esse ousado objetivo, a corrente marxista utilizava-se da dialética, não a dialética hegeliana, mas outra forma de dialética, com algumas modificações com relação a sua forma hegeliana. Vejamos alguns detalhes da “dialética marxista”.
O que é a dialética
A dialética na sua forma marxista tem basicamente quatro características principais:
a)      Ela é uma lei que se impõe: A dialética é uma lei geral e universal que se impõe em todos os âmbitos da existência. Seja na natureza, história ou política ela sempre mostra sua principal característica, a inevitabilidade. Embora possamos conceber algumas vezes as coisas como estáticas, ou as mudanças como fruto do acaso, ou da vontade dos indivíduos, na verdade, por trás da aparência essa lei está atuando e se impondo silenciosamente sobre o mundo.
b)      Determina um encadeamento causal progressivo que vai do inferior para o superior: O movimento que a lei da dialética impõe à natureza e às instituições sociais humanas, não é sem direção. Ela é fatalmente um movimento que conduz os processos de um estágio inferior em direção a um estágio superior. Por mais que possa haver períodos de aparente decadência ou retrocesso, a realidade é que o progresso sempre se mostrará como o resultado final de qualquer processo histórico.
c)      A dialética está na natureza e também no cérebro: Como já foi dito a dialética está na natureza atuando de forma real e prática. Mas, além disso, ela está também no pensamento humano servindo como precioso instrumento de análise para entendimento do mundo como ele é. Esse fato permite ao homem o conhecimento e a consciência dos processos reais.
d)     A dialética nos dá a certeza do surgimento e caducidade das coisas: Como a dialética está agindo no mundo temos a certeza de que nada é eterno. Mesmo aquilo que parece não deixar possibilidades de superação será no tempo certo superado. A dialética determina: “tudo aquilo que surgiu terá de perecer algum dia”.
Assim, em linhas gerais estão expostas as características da dialética marxista. Munida dessa ferramenta, a corrente marxista, segundo Engels, demonstrará como chegou ao fim o papel da filosofia como instrumento para entender a natureza, a história e a política.
2.      O fim do papel da filosofia na análise das questões sobre a natureza
Segundo Engels, as ciências naturais (que em suas descobertas sempre afirmavam a realidade da atuação da dialética na natureza) haviam chegado a um estágio de maturidade no século XIX, em que se tornava dispensável e até mesmo impróprio a manutenção de um diálogo com a filosofia da natureza.
As ciências naturais teriam alcançado um patamar de evolução altamente elevado, como nunca ocorrera antes na história da humanidade e estariam em condições de reivindicar de uma vez por todas a completa emancipação do pensamento filosófico. Engels aponta que as ciências naturais em seu tempo passaram de “ciências colecionadoras” para “ciências coordenadoras”, ou seja, deixaram de ser ciências que apenas estudam as coisas “acabadas” e passaram a investigar também a origem e a conexão entre os fenômenos.
“Com efeito, se até o fim do século passado as ciências naturais foram predominante ciências colecionadoras, ciências de objetos acabados, em nosso século elas já são ciências coordenadoras, ciências que estudam os processos, a origem e o desenvolvimento dessas coisas e a concatenação que faz desses processos um grande todo.”
Engels exalta também as novas descobertas das ciências naturais, cita os avanços da biologia, (com destaque para a teoria da evolução de Darwin), além de descobertas da física.
Para o autor, durante muito tempo na história, a filosofia da natureza era a única capaz de tentar dar uma visão de conjunto das coisas. Como as ciências naturais apenas engatinhavam no passado, não era possível a estas investigar o encadeamento natural dos fenômenos que observavam. A ciência, para ter o nível de exatidão e rigorosidade que foi pensada por seus fundadores como Descartes, Bacon, Galileu, etc. necessitava fazer um “recorte” na realidade, procurar um objeto de estudo pronto e definido, para ter certeza dos resultados que obteria da pesquisa. Não havia dados suficientes para entender os processos e ter uma visão do todo. Essa síntese geral era dada pela chamada filosofia da natureza. E esta, segundo o autor, não fazia nada mais do que substituir o encadeamento real desconhecido por idéias fictícias, soluções imaginárias da cabeça do filósofo. Porém, com o acumulo de conhecimento científico, a ciência tornara–se capaz de dispensar qualquer “ajuda” da filosofia.
Engels decreta, então, que o papel da filosofia no entendimento das questões da natureza está terminado. Ele afirma: “Qualquer tentativa no sentido de ressuscitá-la seria não apenas supérflua: significaria um retrocesso.”
3.      O fim do papel da filosofia na análise das questões sobre a história
Para Engels, no caso da história, a situação da filosofia não era diferente. A filosofia da história sempre fracassara no seu objetivo primordial que era entender as leis gerais imanentes da história. A análise histórica realizada pelos filósofos até então, segundo Engels, apresentava o encadeamento dos fatos históricos, como dirigidos para realizar as idéias preferidas do filósofo que elaborava esse estudo. A conclusão da pesquisa sempre terminava por comprovar que as teses preferidas do filósofo-historiador estavam corretas. E isso acontecia, porque os filósofos não se aplicavam em tentar entender a história dos povos estudados em seu próprio encadeamento real. Hegel serve mais uma vez como exemplo desse fenômeno:
“Dessa forma, a história orientava-se, inconscientemente, mas sob o império da necessidade, para um objetivo ideal, fixado antecipadamente, como, por exemplo, em Hegel, para a realização de sua idéia absoluta, e a tendência inelutável em direção a essa idéia constituía o encadeamento interno dos acontecimentos históricos. Isso significa que o encadeamento real dos fatos, ainda desconhecido, era substituído por uma nova providência misteriosa, inconsciente ou que, pouco a pouco, adquire consciência.”
Como se vê nesse exemplo, contaminada muitas vezes por construções idealistas, os filósofos não eram capazes de entender a verdadeira lógica no desenvolvimento histórico e nem descobrir as leis que regem o progresso histórico.
Engels reconhece que no caso da história humana, a situação é um pouco diferente da história da natureza, porque as forças que atuam em seu interior são forças conscientes. São os homens que agem pela paixão ou pela razão em busca de seus fins subjetivos. No entanto, esse fator, não impede de forma alguma que possamos dizer que existem leis que regem o desenvolvimento histórico. Os homens atuam e constroem a história, movidos por seus objetivos ideais, porém, os objetivos visados por eles acabam resultando em conseqüências bem diferentes das imaginadas. Essa idéia pode parecer contraditória em um primeiro momento, no entanto, Engels explica como isso se desenrola:
“Os objetivos visados pelos atos são produto da vontade, mas não o são os resultados que, na realidade, decorrem deles, e, mesmo quando momentaneamente parecem ajustar-se aos objetivos visados, encerram finalmente conseqüências muito diversas das que eram desejadas.”
 E, no final das contas, no fim dos “processos históricos” podemos observar que o rumo tomado pela história, da mesma forma que a natureza inconsciente do universo, se mostra conduzido por leis gerais, leis ocultas, mas que podem ser descobertas e que se impõem na região onde pareceria que reinava o acaso.
O problema do antigo materialismo, segundo Engels, consistia no fato de que, ele não buscava as causas motores que existem por detrás das forças motrizes ideais. O antigo materialismo contentava-se com a aparência, e por isso, concluía que, na história os maus são sempre os vencedores e os bons são os que perdem. Daí pode-se notar que, o estudo da história não se mostrava muito edificante para essa forma de pensar. Aqueles que se contentam com a aparência e não buscam a essência, não realizam a verdadeira ciência, segundo a teoria marxista. Para Engels:
“A inconseqüência não consiste precisamente em admitir forças motrizes ideais e, sim, em não ir atrás, a partir delas, até suas causas determinantes.”
Provavelmente, persuadidos pela idéia, de origem mística e tradicional, o chamado “livre arbítrio”, os filósofos materialistas não podiam suspeitar que aquilo que determina o conteúdo da consciência dos homens, não é uma alma metafísica e independente do corpo e do mundo material, mas são as próprias forças materiais em cada época que determinam os objetivos dos homens. O pensamento marxista consciente disso sabe que:
“Por conseguinte, se se quer investigar as forças motrizes que – consciente ou inconscientemente, e muito amiúde inconscientemente – estão por trás desses objetivos pelos quais os homens atuam na história e que constituem as verdadeiras alavancas forças motrizes da história, é necessário não se deter tanto nos objetivos de homens isolados, por muito importantes que sejam, como naqueles que impulsionam as grandes massas, os povos em seu conjunto e, dentro de cada povo, classes inteiras: e não momentaneamente, em explosões rápidas, como fugazes fogueiras de palha, mas em ações contínuas que se traduzem em grandes transformações históricas.”
Portanto, privilegia-se agora na investigação histórica, uma análise sobre as grandes mudanças materiais que determinam a criação de classes de interesses antagônicos. Para Engels está muito claro que, a partir do desenvolvimento da grande indústria, a força motriz da história moderna é a luta de duas classes principais, a saber, a burguesia e o proletariado. Ou seja, por mais que possa parecer pelo conteúdo da consciência dos homens, que estes buscam realizar objetivos de valor simbólico dos mais variados, na verdade, em última instância, todas as lutas têm por fim causas econômicas, e é isso que a história moderna deixava transparecer claramente como nunca havia acontecido em outros momentos históricos, e por mais, que os homens possam aparentemente se mostrar independentes, eles são sem sombra de dúvidas, submetidos aos interesses e ideologias de suas classes, as quais sustentam em seu interior as possibilidades para que possa se realizar continuamente as formas de reprodução atual de suas existências.
As lutas de classes são o motor fundamental do desenvolvimento histórico. Existe uma classe dominante e uma dominada que vivem em conflito. Essas lutas, no entanto, não ocorrem apenas no plano econômico, as classes sempre buscam o poder político que é o instrumento utilizado para a realização da dominação de uma classe sobre a outra. Isso nos conduz então, à necessidade de analisar, o que são na essência as lutas políticas, o que é o Estado e qual é o seu papel?
4.      O fim do papel da filosofia na análise das questões da política
Os filósofos desde a antiguidade procuraram tentar entender o que é ou o que deve ser o Estado e como e porque se davam as lutas políticas na sociedade. Para Hegel, por exemplo, o Estado era o ente racional por excelência, para Hobbes, o Estado era o grande Leviatã que possibilita com que os homens vivam em paz e de acordo com a razão.
Para Engels, no entanto, os filósofos nunca foram capazes de entender as questões políticas. Mais uma vez, como nas questões da natureza e da história, tudo o que trataram de fazer foi tentar justificar suas idéias, que já possuíam de antemão, com uma análise pobre e tendenciosa dos fatos reais. Para o autor a história moderna, deixa as coisas muito claras:
“E era não menos evidente que nas lutas entre os grandes latifundiários e a burguesia, tanto quanto na luta entre a burguesia e o proletariado, tratava-se em primeiro plano de interesses econômicos, devendo o poder político servir de mero instrumento para sua realização.”
E, portanto, o Estado não é um ser autônomo, como identificaram grande parte dos filósofos, ele é na realidade (como a consciência humana) determinado por uma instância fora dele, no caso, a sociedade civil. A vontade do Estado obedece em última instância ao resultado da correlação de forças existentes na sociedade civil. Nas palavras de Engels:
“(...) a vontade do Estado obedece, em geral, às necessidades variáveis da sociedade civil, à supremacia desta ou daquela classe e, em última instância, ao desenvolvimento das forças produtivas e das condições de troca.”
Engels explica que se essa é a realidade na história moderna, deve ser ainda mais verdade para outros momentos históricos em que, o ato da produção requisitava maior parte da vida dos homens. Ou seja, entendemos a forma do Estado pelas formas de produção e de troca, a lógica do campo político é deduzida da lógica do campo econômico.
Tendo isso claro, fica, no entanto, a dúvida: e com relação ao campo religioso e filosófico? Eles também têm sua lógica determinada por outro campo?
A resposta segundo Engels é afirmativa. Por mais que se coloquem como afastadas das questões econômicas, a religião e a filosofia têm seu conteúdo determinado por essa instância.  Engels demonstra alguns exemplos históricos de como a religião (que serve de exemplo principal nesse texto) se modifica acompanhando as modificações das forças produtivas e do conteúdo ideológico necessário para as classes dominantes. Ela também é expressão na luta pelo poder, na luta de classes, e não é de forma alguma autônoma.
“Vemos, pois, que a religião, uma vez constituída, contém sempre matéria tradicional, já que a tradição é, em todos os domínios da ideologia, uma grande força conservadora. Entretanto, as modificações que se produzem nessa matéria decorrem das relações de classes, e portanto das relações econômicas vigentes entre os homens que efetuam essas modificações.”
Com a apresentação e defesa de todos esses conceitos, Engels se considera em condições de expor seu veredicto sobre o destino da filosofia. Ele conclui:
“Esta interpretação põe fim à filosofia no campo da história, exatamente da mesma forma que a concepção dialética da natureza torna a filosofia da natureza tão desnecessária quanto impossível. Agora, já não se trata de tirar do cérebro as conexões entre as coisas, mas de descobri–las nos próprios fatos. Expulsa da natureza e da história, só resta à filosofia um único refúgio: o reino do pensamento puro, no que dele ainda está de pé: a doutrina das leis do próprio pensamento, a lógica e a dialética.”

Um comentário:

  1. Sobre a Obra de FEUERBACH É CORRETO AFIRMAR QUE ?
    A) DIALOGOU COM O PENSAMENTO CONSERVADOR CATOLICO ;
    B)FEZ UMA CRITICA DA RAZAO EM MOLDES PÓS-MODERNOS ;
    C)UTILIZOU O CONCEITO DE ALIENACAO DE HEGEL P/ APLICÁ-LOS NA DEFESA DA TESE DO ATEÍSMO ;
    D)NAO SOFREU CRITICAS POR PARTE DE MARX E ENGELS .

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