sexta-feira, 6 de maio de 2011

Qual história estamos estudanto?

Alessandro R. Chaves


Pessoal, segue um texto que elaborei referente ao nosso polemico curso de história.
Creio ser extremamente interessante termos uma outra visão da história, pensar a história de outra maneira.

Não acredito em textos que não possuem críticas, por isso, já deixo claro, que por mais que eu queira me isentar de deixar minhas opiniões, elas estarão presentes. Seja em algo que destaquei, seja em algo que omiti.

Apesar de achar interessante, não vou deixar de mencionar que não estou de acordo com o pensamento do autor. Mas, penso eu, que no nosso curso, até o momento, é a mais pertinente crítica ao Marx.

Peço desculpas pelos erros e pela pressa com que foi escrito o texto.


TEMPO E HISTÓRIA

O TEMPO E OS TEMPOS - ALFREDO BOSI

Para o autor datas são pontos de iceberg. Veremos mais adiante o motivo.
Bosi, identifica duas filosofias opostas da história, uma cumulativa e finalista, outra pontual. "Em ambas está presente o modelo do tempo como serialidade, sucessão, cadeia de antes-e-depois. Mas a questão do sentido separa as águas. E é a questão do sentido do tempo que preside as teorias da História." (pp. 20)

A primeira teoria é movida por forças casuais, determinantes, que conduziriam a uma justificação plena e final da história. A segunda não tem plenitude, não tem telos.

Para nós, que lemos tanto Hobsbawn em nosso curso, observe o trecho seguinte:

"Quem pensa na seqüência dos acontecimentos em termos de grandes eras econômicas (...) tende a reforçar a lógica progressista desta primeira abordagem. A evidência é a própria série: feudalismo, mercantilismo, capitalismo industrial e... socialismo, diriam hoje, talvez com menor ênfase de convicção, os marxistas."

O autor dirá em seguida que a idéia de progresso e evolução, tornaram-se senso comum durante o século XIX, trazendo assim a idéia de um homem único. Porém é nítido que essa idéia - comum para todos - passa por uma intensa crise. Justamente por, nos dias de hoje, não podemos mais afirmar com tanta certeza que progresso e evolução, dizem respeito a algo positivo, ou seja, que sejam melhores. Ainda quanto a crise do progresso, dirá Bosi:

"resulta de frustrações na medida em que o avanço tecnológico, além de ter acarretado prejuízos terríveis à natureza, por si mesmo não curou as feridas de miséria do Terceiro e Quarto Mundo nem humanizou o convívio entre os povos em pleno fim desse milênio" (pp.22)

Em suma, "a seqüência dos tempos não produz necessária e automaticamente uma evolução do inferior para o superior."

Em oposição a essa teoria da história - será que podemos arriscar chamá-la de teleológica? - o autor vai dizer que ao invés do depois ser, simplesmente, produzido pelo antes, o depois seria causa de forças "irracionais e inconscientes; forças que levam o ser humano a fugir à dor e buscar o prazer, ou simplesmente repousar na inércia do sossego; forças que parecem não remeter a nada se não a si mesmas. Vontade de viver e de sobreviver seria o "sentido" imanente da série cronológica em que se inscreve a existência." (pp.23)

Bosi recorre a Schopenhauer e a Leopardi - que segundo o filósofo alemão é o "único poeta moderno comparável aos gregos" - para explicar que "o tempo de cada ser humano é inteiramente gasto em procurar a satisfação de desejos e em construir representações o mais das vezes falazes, subtraindo-se, o quanto possível às sensações dolorosas e às chamadas verdades duras e amargas. Bom é o que eu quero, verdadeiro o que represento em meu espírito." (pp. 25)

Chegamos no indivíduo, agora pensado, de certa forma, separado da sociedade. Pois, entendendo a história dessa maneira, é necessário explicar a história pública pela individual; diz o autor: "o que aparece na vida pública só se entende por dentro examinando as vaidades e as veleidades dos seus atores."

Voltando a questão do que são datas, Bosi vai dizer que "as datas anunciam o ponto de partida daqueles regimes, ou o seu ápice, enfim, o momento exato em que cedem lugar ao período que os vai superar."(pp.26)

Pensando as datas - como no inicio do texto - como "pontas de iceberg", o autor vai dizer que esses quadros sucessivos (datas, a história em série), quando olhados de perto, "se mostram animados pela intersubjetividade de homens, mulheres, famílias e grupos culturais que não deveriam perder a sua face nem reduzir-se à classificações de produtores, mercantes, senhores, escravos etc., que lhes aplicou o léxico forçosamente simplificador da historiografia sociológica." (pp.26)

Diz Bosi, que o historiador que não quer se limitar à apenas a ponta do iceberg, ou seja, "resumir em uma catalogação dos tempos pretéritos (homem feudal, homem mercantil, homem industrial)", deverá investigar as tramas sociais que ocorrem no interior desses sistemas, ou seja, se debruçar sobre o que está submerso a ponta do iceberg.

Essa forma de pensar a história - agora o autor se inspira em Levi-Strauss - traz a idéia de reversibilidade. Reversibilidade da história, "pois suas formas voltam e se transmitem de geração a geração." Torna-se o tempo reversível. Nas palavras de Bosi:

"O tempo reversível é, portanto, uma construção de percepção e da memória: supõe o tempo como seqüência, mas o suprime enquanto o sujeito vive a simultaneidade." (pp.27)

Para não ficar dúvidas :

"A memória articula-se formalmente e duradoramente na vida social mediante a linguagem. Pela memória as pessoas que se ausentaram fazem-se presentes. Com o passar das gerações e das estações esse processo "cai" no inconsciente lingüístico, reaflorando sempre que se faz uso da palavra que evoca e invoca. É a linguagem que permite conservar e reavivar a imagem que cada geração tem das anteriores. Memória e palavra, no fundo inseparáveis, são a condição de possibilidade do tempo reversível." (pp.28)

Em suma, o autor está dizendo - grosso modo - que os fatos, idéias, a ação humana, não se encontra limitada por uma data, ou simplesmente por categorias, eras. A história não passa de uma fase para outra; não se encerra uma era e se inicia outra. "O diálogo com o passado torna-o presente. O pretérito passa a existir, de novo. Ouvir a voz do outro é caminhar para a constituição de uma subjetividade própria." (pp.29)

Um comentário:

  1. Alessandro, valeu pelo texto. Não sabia que esse texto tratava sobre esse assunto. Vou dar uma lida nele e talvez eu o utilize no seminário.
    Abraço.

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