quinta-feira, 19 de maio de 2011

Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã

Por: Mike Martins

Pessoal, decidi postar aqui no blog a primeira parte do trabalho do meu grupo sobre o texto do Engels citado acima, para quem quiser dar uma olhada e preparar-se para a discussão do seminário que ocorrerá no começo de junho.
Obs: Esse não será o texto que entregaremos para a sala no dia do seminário. Entregaremos um resumo bem menor contendo breve explicação sobre os tópicos da discussão.

Friedrich Engels: Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã (Capítulo IV)
1.      O pensamento marxista: algumas palavras sobre suas concepções básicas de análise
Como dissemos na introdução, o objetivo desse texto de Engels é expor e defender a tese de que a filosofia, tal como a conhecemos historicamente, estaria com os dias contados. Para isso, recorre ao método materialista dialético histórico, argumentando que essa seria a visão de mundo que tenderia a se impor no futuro. Essa concepção de mundo, quando aplicada na análise das questões da natureza, da história, da política, do direito e da religião, mostraria no final das contas, o quanto estava superada a antiga filosofia. Os processos estavam desvendados, os encadeamentos reais dos fatos foram descobertos, o mundo real, a natureza e a história eram agora conhecidos na sua forma objetiva por essa ciência. Nas palavras do próprio Engels, a corrente marxista:
“Também esta corrente separou-se da filosofia hegeliana através da volta às posições materialistas. Isto é, decidindo-se a conceber o mundo real – a natureza e a história – como ele se apresenta a todo aquele que o aborda sem quimeras idealistas preconcebidas; decidindo-se a sacrificar, implacavelmente, todas as quimeras idealistas que não concordassem com os fatos encarados estes em seu próprio encadeamento e não numa concatenação imaginária.”
Para realizar esse ousado objetivo, a corrente marxista utilizava-se da dialética, não a dialética hegeliana, mas outra forma de dialética, com algumas modificações com relação a sua forma hegeliana. Vejamos alguns detalhes da “dialética marxista”.
O que é a dialética
A dialética na sua forma marxista tem basicamente quatro características principais:
a)      Ela é uma lei que se impõe: A dialética é uma lei geral e universal que se impõe em todos os âmbitos da existência. Seja na natureza, história ou política ela sempre mostra sua principal característica, a inevitabilidade. Embora possamos conceber algumas vezes as coisas como estáticas, ou as mudanças como fruto do acaso, ou da vontade dos indivíduos, na verdade, por trás da aparência essa lei está atuando e se impondo silenciosamente sobre o mundo.
b)      Determina um encadeamento causal progressivo que vai do inferior para o superior: O movimento que a lei da dialética impõe à natureza e às instituições sociais humanas, não é sem direção. Ela é fatalmente um movimento que conduz os processos de um estágio inferior em direção a um estágio superior. Por mais que possa haver períodos de aparente decadência ou retrocesso, a realidade é que o progresso sempre se mostrará como o resultado final de qualquer processo histórico.
c)      A dialética está na natureza e também no cérebro: Como já foi dito a dialética está na natureza atuando de forma real e prática. Mas, além disso, ela está também no pensamento humano servindo como precioso instrumento de análise para entendimento do mundo como ele é. Esse fato permite ao homem o conhecimento e a consciência dos processos reais.
d)     A dialética nos dá a certeza do surgimento e caducidade das coisas: Como a dialética está agindo no mundo temos a certeza de que nada é eterno. Mesmo aquilo que parece não deixar possibilidades de superação será no tempo certo superado. A dialética determina: “tudo aquilo que surgiu terá de perecer algum dia”.
Assim, em linhas gerais estão expostas as características da dialética marxista. Munida dessa ferramenta, a corrente marxista, segundo Engels, demonstrará como chegou ao fim o papel da filosofia como instrumento para entender a natureza, a história e a política.
2.      O fim do papel da filosofia na análise das questões sobre a natureza
Segundo Engels, as ciências naturais (que em suas descobertas sempre afirmavam a realidade da atuação da dialética na natureza) haviam chegado a um estágio de maturidade no século XIX, em que se tornava dispensável e até mesmo impróprio a manutenção de um diálogo com a filosofia da natureza.
As ciências naturais teriam alcançado um patamar de evolução altamente elevado, como nunca ocorrera antes na história da humanidade e estariam em condições de reivindicar de uma vez por todas a completa emancipação do pensamento filosófico. Engels aponta que as ciências naturais em seu tempo passaram de “ciências colecionadoras” para “ciências coordenadoras”, ou seja, deixaram de ser ciências que apenas estudam as coisas “acabadas” e passaram a investigar também a origem e a conexão entre os fenômenos.
“Com efeito, se até o fim do século passado as ciências naturais foram predominante ciências colecionadoras, ciências de objetos acabados, em nosso século elas já são ciências coordenadoras, ciências que estudam os processos, a origem e o desenvolvimento dessas coisas e a concatenação que faz desses processos um grande todo.”
Engels exalta também as novas descobertas das ciências naturais, cita os avanços da biologia, (com destaque para a teoria da evolução de Darwin), além de descobertas da física.
Para o autor, durante muito tempo na história, a filosofia da natureza era a única capaz de tentar dar uma visão de conjunto das coisas. Como as ciências naturais apenas engatinhavam no passado, não era possível a estas investigar o encadeamento natural dos fenômenos que observavam. A ciência, para ter o nível de exatidão e rigorosidade que foi pensada por seus fundadores como Descartes, Bacon, Galileu, etc. necessitava fazer um “recorte” na realidade, procurar um objeto de estudo pronto e definido, para ter certeza dos resultados que obteria da pesquisa. Não havia dados suficientes para entender os processos e ter uma visão do todo. Essa síntese geral era dada pela chamada filosofia da natureza. E esta, segundo o autor, não fazia nada mais do que substituir o encadeamento real desconhecido por idéias fictícias, soluções imaginárias da cabeça do filósofo. Porém, com o acumulo de conhecimento científico, a ciência tornara–se capaz de dispensar qualquer “ajuda” da filosofia.
Engels decreta, então, que o papel da filosofia no entendimento das questões da natureza está terminado. Ele afirma: “Qualquer tentativa no sentido de ressuscitá-la seria não apenas supérflua: significaria um retrocesso.”
3.      O fim do papel da filosofia na análise das questões sobre a história
Para Engels, no caso da história, a situação da filosofia não era diferente. A filosofia da história sempre fracassara no seu objetivo primordial que era entender as leis gerais imanentes da história. A análise histórica realizada pelos filósofos até então, segundo Engels, apresentava o encadeamento dos fatos históricos, como dirigidos para realizar as idéias preferidas do filósofo que elaborava esse estudo. A conclusão da pesquisa sempre terminava por comprovar que as teses preferidas do filósofo-historiador estavam corretas. E isso acontecia, porque os filósofos não se aplicavam em tentar entender a história dos povos estudados em seu próprio encadeamento real. Hegel serve mais uma vez como exemplo desse fenômeno:
“Dessa forma, a história orientava-se, inconscientemente, mas sob o império da necessidade, para um objetivo ideal, fixado antecipadamente, como, por exemplo, em Hegel, para a realização de sua idéia absoluta, e a tendência inelutável em direção a essa idéia constituía o encadeamento interno dos acontecimentos históricos. Isso significa que o encadeamento real dos fatos, ainda desconhecido, era substituído por uma nova providência misteriosa, inconsciente ou que, pouco a pouco, adquire consciência.”
Como se vê nesse exemplo, contaminada muitas vezes por construções idealistas, os filósofos não eram capazes de entender a verdadeira lógica no desenvolvimento histórico e nem descobrir as leis que regem o progresso histórico.
Engels reconhece que no caso da história humana, a situação é um pouco diferente da história da natureza, porque as forças que atuam em seu interior são forças conscientes. São os homens que agem pela paixão ou pela razão em busca de seus fins subjetivos. No entanto, esse fator, não impede de forma alguma que possamos dizer que existem leis que regem o desenvolvimento histórico. Os homens atuam e constroem a história, movidos por seus objetivos ideais, porém, os objetivos visados por eles acabam resultando em conseqüências bem diferentes das imaginadas. Essa idéia pode parecer contraditória em um primeiro momento, no entanto, Engels explica como isso se desenrola:
“Os objetivos visados pelos atos são produto da vontade, mas não o são os resultados que, na realidade, decorrem deles, e, mesmo quando momentaneamente parecem ajustar-se aos objetivos visados, encerram finalmente conseqüências muito diversas das que eram desejadas.”
 E, no final das contas, no fim dos “processos históricos” podemos observar que o rumo tomado pela história, da mesma forma que a natureza inconsciente do universo, se mostra conduzido por leis gerais, leis ocultas, mas que podem ser descobertas e que se impõem na região onde pareceria que reinava o acaso.
O problema do antigo materialismo, segundo Engels, consistia no fato de que, ele não buscava as causas motores que existem por detrás das forças motrizes ideais. O antigo materialismo contentava-se com a aparência, e por isso, concluía que, na história os maus são sempre os vencedores e os bons são os que perdem. Daí pode-se notar que, o estudo da história não se mostrava muito edificante para essa forma de pensar. Aqueles que se contentam com a aparência e não buscam a essência, não realizam a verdadeira ciência, segundo a teoria marxista. Para Engels:
“A inconseqüência não consiste precisamente em admitir forças motrizes ideais e, sim, em não ir atrás, a partir delas, até suas causas determinantes.”
Provavelmente, persuadidos pela idéia, de origem mística e tradicional, o chamado “livre arbítrio”, os filósofos materialistas não podiam suspeitar que aquilo que determina o conteúdo da consciência dos homens, não é uma alma metafísica e independente do corpo e do mundo material, mas são as próprias forças materiais em cada época que determinam os objetivos dos homens. O pensamento marxista consciente disso sabe que:
“Por conseguinte, se se quer investigar as forças motrizes que – consciente ou inconscientemente, e muito amiúde inconscientemente – estão por trás desses objetivos pelos quais os homens atuam na história e que constituem as verdadeiras alavancas forças motrizes da história, é necessário não se deter tanto nos objetivos de homens isolados, por muito importantes que sejam, como naqueles que impulsionam as grandes massas, os povos em seu conjunto e, dentro de cada povo, classes inteiras: e não momentaneamente, em explosões rápidas, como fugazes fogueiras de palha, mas em ações contínuas que se traduzem em grandes transformações históricas.”
Portanto, privilegia-se agora na investigação histórica, uma análise sobre as grandes mudanças materiais que determinam a criação de classes de interesses antagônicos. Para Engels está muito claro que, a partir do desenvolvimento da grande indústria, a força motriz da história moderna é a luta de duas classes principais, a saber, a burguesia e o proletariado. Ou seja, por mais que possa parecer pelo conteúdo da consciência dos homens, que estes buscam realizar objetivos de valor simbólico dos mais variados, na verdade, em última instância, todas as lutas têm por fim causas econômicas, e é isso que a história moderna deixava transparecer claramente como nunca havia acontecido em outros momentos históricos, e por mais, que os homens possam aparentemente se mostrar independentes, eles são sem sombra de dúvidas, submetidos aos interesses e ideologias de suas classes, as quais sustentam em seu interior as possibilidades para que possa se realizar continuamente as formas de reprodução atual de suas existências.
As lutas de classes são o motor fundamental do desenvolvimento histórico. Existe uma classe dominante e uma dominada que vivem em conflito. Essas lutas, no entanto, não ocorrem apenas no plano econômico, as classes sempre buscam o poder político que é o instrumento utilizado para a realização da dominação de uma classe sobre a outra. Isso nos conduz então, à necessidade de analisar, o que são na essência as lutas políticas, o que é o Estado e qual é o seu papel?
4.      O fim do papel da filosofia na análise das questões da política
Os filósofos desde a antiguidade procuraram tentar entender o que é ou o que deve ser o Estado e como e porque se davam as lutas políticas na sociedade. Para Hegel, por exemplo, o Estado era o ente racional por excelência, para Hobbes, o Estado era o grande Leviatã que possibilita com que os homens vivam em paz e de acordo com a razão.
Para Engels, no entanto, os filósofos nunca foram capazes de entender as questões políticas. Mais uma vez, como nas questões da natureza e da história, tudo o que trataram de fazer foi tentar justificar suas idéias, que já possuíam de antemão, com uma análise pobre e tendenciosa dos fatos reais. Para o autor a história moderna, deixa as coisas muito claras:
“E era não menos evidente que nas lutas entre os grandes latifundiários e a burguesia, tanto quanto na luta entre a burguesia e o proletariado, tratava-se em primeiro plano de interesses econômicos, devendo o poder político servir de mero instrumento para sua realização.”
E, portanto, o Estado não é um ser autônomo, como identificaram grande parte dos filósofos, ele é na realidade (como a consciência humana) determinado por uma instância fora dele, no caso, a sociedade civil. A vontade do Estado obedece em última instância ao resultado da correlação de forças existentes na sociedade civil. Nas palavras de Engels:
“(...) a vontade do Estado obedece, em geral, às necessidades variáveis da sociedade civil, à supremacia desta ou daquela classe e, em última instância, ao desenvolvimento das forças produtivas e das condições de troca.”
Engels explica que se essa é a realidade na história moderna, deve ser ainda mais verdade para outros momentos históricos em que, o ato da produção requisitava maior parte da vida dos homens. Ou seja, entendemos a forma do Estado pelas formas de produção e de troca, a lógica do campo político é deduzida da lógica do campo econômico.
Tendo isso claro, fica, no entanto, a dúvida: e com relação ao campo religioso e filosófico? Eles também têm sua lógica determinada por outro campo?
A resposta segundo Engels é afirmativa. Por mais que se coloquem como afastadas das questões econômicas, a religião e a filosofia têm seu conteúdo determinado por essa instância.  Engels demonstra alguns exemplos históricos de como a religião (que serve de exemplo principal nesse texto) se modifica acompanhando as modificações das forças produtivas e do conteúdo ideológico necessário para as classes dominantes. Ela também é expressão na luta pelo poder, na luta de classes, e não é de forma alguma autônoma.
“Vemos, pois, que a religião, uma vez constituída, contém sempre matéria tradicional, já que a tradição é, em todos os domínios da ideologia, uma grande força conservadora. Entretanto, as modificações que se produzem nessa matéria decorrem das relações de classes, e portanto das relações econômicas vigentes entre os homens que efetuam essas modificações.”
Com a apresentação e defesa de todos esses conceitos, Engels se considera em condições de expor seu veredicto sobre o destino da filosofia. Ele conclui:
“Esta interpretação põe fim à filosofia no campo da história, exatamente da mesma forma que a concepção dialética da natureza torna a filosofia da natureza tão desnecessária quanto impossível. Agora, já não se trata de tirar do cérebro as conexões entre as coisas, mas de descobri–las nos próprios fatos. Expulsa da natureza e da história, só resta à filosofia um único refúgio: o reino do pensamento puro, no que dele ainda está de pé: a doutrina das leis do próprio pensamento, a lógica e a dialética.”

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Qual história estamos estudanto?

Alessandro R. Chaves


Pessoal, segue um texto que elaborei referente ao nosso polemico curso de história.
Creio ser extremamente interessante termos uma outra visão da história, pensar a história de outra maneira.

Não acredito em textos que não possuem críticas, por isso, já deixo claro, que por mais que eu queira me isentar de deixar minhas opiniões, elas estarão presentes. Seja em algo que destaquei, seja em algo que omiti.

Apesar de achar interessante, não vou deixar de mencionar que não estou de acordo com o pensamento do autor. Mas, penso eu, que no nosso curso, até o momento, é a mais pertinente crítica ao Marx.

Peço desculpas pelos erros e pela pressa com que foi escrito o texto.


TEMPO E HISTÓRIA

O TEMPO E OS TEMPOS - ALFREDO BOSI

Para o autor datas são pontos de iceberg. Veremos mais adiante o motivo.
Bosi, identifica duas filosofias opostas da história, uma cumulativa e finalista, outra pontual. "Em ambas está presente o modelo do tempo como serialidade, sucessão, cadeia de antes-e-depois. Mas a questão do sentido separa as águas. E é a questão do sentido do tempo que preside as teorias da História." (pp. 20)

A primeira teoria é movida por forças casuais, determinantes, que conduziriam a uma justificação plena e final da história. A segunda não tem plenitude, não tem telos.

Para nós, que lemos tanto Hobsbawn em nosso curso, observe o trecho seguinte:

"Quem pensa na seqüência dos acontecimentos em termos de grandes eras econômicas (...) tende a reforçar a lógica progressista desta primeira abordagem. A evidência é a própria série: feudalismo, mercantilismo, capitalismo industrial e... socialismo, diriam hoje, talvez com menor ênfase de convicção, os marxistas."

O autor dirá em seguida que a idéia de progresso e evolução, tornaram-se senso comum durante o século XIX, trazendo assim a idéia de um homem único. Porém é nítido que essa idéia - comum para todos - passa por uma intensa crise. Justamente por, nos dias de hoje, não podemos mais afirmar com tanta certeza que progresso e evolução, dizem respeito a algo positivo, ou seja, que sejam melhores. Ainda quanto a crise do progresso, dirá Bosi:

"resulta de frustrações na medida em que o avanço tecnológico, além de ter acarretado prejuízos terríveis à natureza, por si mesmo não curou as feridas de miséria do Terceiro e Quarto Mundo nem humanizou o convívio entre os povos em pleno fim desse milênio" (pp.22)

Em suma, "a seqüência dos tempos não produz necessária e automaticamente uma evolução do inferior para o superior."

Em oposição a essa teoria da história - será que podemos arriscar chamá-la de teleológica? - o autor vai dizer que ao invés do depois ser, simplesmente, produzido pelo antes, o depois seria causa de forças "irracionais e inconscientes; forças que levam o ser humano a fugir à dor e buscar o prazer, ou simplesmente repousar na inércia do sossego; forças que parecem não remeter a nada se não a si mesmas. Vontade de viver e de sobreviver seria o "sentido" imanente da série cronológica em que se inscreve a existência." (pp.23)

Bosi recorre a Schopenhauer e a Leopardi - que segundo o filósofo alemão é o "único poeta moderno comparável aos gregos" - para explicar que "o tempo de cada ser humano é inteiramente gasto em procurar a satisfação de desejos e em construir representações o mais das vezes falazes, subtraindo-se, o quanto possível às sensações dolorosas e às chamadas verdades duras e amargas. Bom é o que eu quero, verdadeiro o que represento em meu espírito." (pp. 25)

Chegamos no indivíduo, agora pensado, de certa forma, separado da sociedade. Pois, entendendo a história dessa maneira, é necessário explicar a história pública pela individual; diz o autor: "o que aparece na vida pública só se entende por dentro examinando as vaidades e as veleidades dos seus atores."

Voltando a questão do que são datas, Bosi vai dizer que "as datas anunciam o ponto de partida daqueles regimes, ou o seu ápice, enfim, o momento exato em que cedem lugar ao período que os vai superar."(pp.26)

Pensando as datas - como no inicio do texto - como "pontas de iceberg", o autor vai dizer que esses quadros sucessivos (datas, a história em série), quando olhados de perto, "se mostram animados pela intersubjetividade de homens, mulheres, famílias e grupos culturais que não deveriam perder a sua face nem reduzir-se à classificações de produtores, mercantes, senhores, escravos etc., que lhes aplicou o léxico forçosamente simplificador da historiografia sociológica." (pp.26)

Diz Bosi, que o historiador que não quer se limitar à apenas a ponta do iceberg, ou seja, "resumir em uma catalogação dos tempos pretéritos (homem feudal, homem mercantil, homem industrial)", deverá investigar as tramas sociais que ocorrem no interior desses sistemas, ou seja, se debruçar sobre o que está submerso a ponta do iceberg.

Essa forma de pensar a história - agora o autor se inspira em Levi-Strauss - traz a idéia de reversibilidade. Reversibilidade da história, "pois suas formas voltam e se transmitem de geração a geração." Torna-se o tempo reversível. Nas palavras de Bosi:

"O tempo reversível é, portanto, uma construção de percepção e da memória: supõe o tempo como seqüência, mas o suprime enquanto o sujeito vive a simultaneidade." (pp.27)

Para não ficar dúvidas :

"A memória articula-se formalmente e duradoramente na vida social mediante a linguagem. Pela memória as pessoas que se ausentaram fazem-se presentes. Com o passar das gerações e das estações esse processo "cai" no inconsciente lingüístico, reaflorando sempre que se faz uso da palavra que evoca e invoca. É a linguagem que permite conservar e reavivar a imagem que cada geração tem das anteriores. Memória e palavra, no fundo inseparáveis, são a condição de possibilidade do tempo reversível." (pp.28)

Em suma, o autor está dizendo - grosso modo - que os fatos, idéias, a ação humana, não se encontra limitada por uma data, ou simplesmente por categorias, eras. A história não passa de uma fase para outra; não se encerra uma era e se inicia outra. "O diálogo com o passado torna-o presente. O pretérito passa a existir, de novo. Ouvir a voz do outro é caminhar para a constituição de uma subjetividade própria." (pp.29)

domingo, 24 de abril de 2011

P. Kropotkin: Sobre o governo representativo ou parlamentarista

Por: Amanda França.

Nascido em Moscou, Kropotkin é apontado como um dos principais anarquistas do final do século XIX. O autor era também geógrafo, serviu ao exército russo em 1862 e contribuiu decisivamente com as formulações teóricas libertárias acerca do Anarco-Comunismo.

O Anarco-Comunismo era uma das vertentes teóricas do Comunismo. Defendia o fim do Estado e da Propriedade Privada, assim como, uma democracia direta realizada através de federações de trabalhadores que gerenciariam a vida social como um todo.

No texto analisado, Sobre o Governo Representativo ou Parlamentarista”, Kropotkin em seus primeiros parágrafos afirma que um regime político está sempre e, inevitavelmente submetido ao regime econômico. Não existem modificações significativas na estrutura política realizada através da legislação, toda aparente transformação é tratada pelo autor como uma adaptação ao que tange o regime econômico. Para que haja transformações profundas e duráveis é preciso promover uma revolução de ordem econômica.
Kropotkin defende a extinção do capitalismo. Segundo o autor o capitalismo representa o estrangulamento de todas as liberdades e de todo progresso (Kropotkin, p.48), propondo dessa maneira, uma revolução no modo de produção e de distribuição, a abolição da propriedade privada individual, estabelecendo um regime coletivista. E é nesse ponto que o autor afirma que o parlamentarismo é inviável para este modelo econômico.

Defendida a máxima de que “um novo regime econômico exige um novo regime político (Kropotkin, p.48)”, a crítica é acirrada as formas de governo representativo, seja no parlamentarismo ofertado pela democracia, sejam pelo absolutismo ofertado pela monarquia.  O autor desdenha a fé atribuída em um governo representativo, o chama de “governo por procuração”. Para Kropotkin não existem diferenças substancias entre monarquias, democracias ou até mesmo comunas revolucionárias, pois todas seguiram os mesmos rastros, a representatividade.

Partilhando das idéias de J. S. Miel, o autor defende o surgimento de uma organização política nascidas das verdadeiras necessidades da humanidade e dotada da concepção de que a representatividade não é uma forma de ser livre, muito pelo contrário. O sistema representativo não deu as sociedades às liberdades que lhe é atribuída, tais como o sufrágio universal e o suposto controle e participação da sociedade no governo. Os movimentos gerados pelo pensamento liberal resultante em revolução é que promove as liberdades existentes até então. O governo representativo por si só não concede liberdades reais, mas oferta a adaptação administrativa ao despotismo. Assim sendo, é preciso defender-se do parlamentarismo, assim como se fez contra a monarquia (Kropotkin, p.52-53).

Avaliar se os efeitos do poder representativo são tão grandes e insuportáveis como eram os do poder absoluto é uma das ambições do trabalho do autor. O regime representativo nada mais é que uma atribuição do poder absoluto, submetido a uma fiscalização popular fictícia, marcando um entrave para o progresso de acordo com Kropotkin. Os defeitos desse regime não são inerentes aos indivíduos que estão no poder, mas sim ao próprio sistema, uma dominação organizada da burguesia, que tende a desaparecer com ela. Pensar em um novo modo de organização política baseada num principio que não seja a representatividade, é a grande questão trabalhada por Kropotkin.

O governo representativo é déspota mesmo se chamado de Parlamento, Convenção, Conselho da Comuna. Pois sempre procura estender sua legislação, reforçar seu poder. Segundo o autor, isso faz com que sua interferência se realize em todas as esferas da vida individual e social. “A sua tendência natural, inevitável, será apoderar-se do individuo desde sua infância e levá-lo de lei em lei, da ameaça à punição, do berço à cova, sem nunca o libertar da sua vigilância (Kropotkin, p. 55)”.  A constituição é assim uma força que fatalmente apodera-se de tudo e regula todas as funções da sociedade desenfreadamente, se não for freada por meio da agitação ou insurreição.

O Parlamentarismo não faz exceção à regra, é feroz contra uns e delicado com outros. É protetor dos privilégios da burguesia comercial e industrial e contra a aristocracia e os exploradores.
Órgão da dominação do capital ferindo com mais segurança e covardia do que qualquer déspota, o governo representativo é perpetuado pelo sistema econômico vigente.  Assim sendo, a igualdade econômica é a ferramenta indispensável para a construção do sistema político proposto por Kropotkin, onde cidadãos livres gerem sua própria vida. A defesa do governo pessoal segue em todo trabalho, só assim o poder estaria nas mãos de uma classe e não de uma pessoa.

A representatividade teve origem, segundo o autor, nas inúmeras atribuições dadas as essa forma de governo com o passar do tempo, tais como: atribuições políticas, econômicas militares, financeiras, industriais, históricas, etc. Juntamente com a garantia de ordem atribuída a essa forma de governo.
“Todo governo tem uma tendência para se tornar pessoal; é a sua origem; é a sua essência (Kropotkin, p.58)”.  Admite Kropotkin em suas análises, ainda que formado exclusivamente por trabalhadores, a representatividade procura sempre os que desejam abster-se do trabalho de governar, optando pela submissão.

Funcionalismo para tudo! Eis a característica da representatividade analisada pelo autor. A melhora do parlamentarismo é um pensamento ingênuo, afirma Kropotkin, p. 61. Somos fruto de uma educação autoritária, o desejo de tornar real um Estado operário governado por uma assembléia eleita é a pior das ambições. Não existem bons reis e não pode haver bom parlamento, o futuro é socialista. 
  
Há inúmeros defeitos no sistema representativo, entre eles os homens que se dispõe a governar são mentirosos, sejam eles oportunistas ou socialistas-revolucionários. Ainda que o poder dos deputados fosse diminuído ao máximo, ainda que fosse fracionado em cada Estado, pequenos Estados, tudo ficaria na mesma, pois o homem faz da política uma indústria e produz em grande escala publicidade e corrupção. A representatividade se apóia na máxima de que é especialmente exercida pelos melhores, e esses, são dotados de uma invejável capacidade cognitiva capaz de legislar não importa sobre o quê. O que francamente não é verdade.

O único direito não violado é o de tempos em tempos nomear novos representantes, conservando sempre os vícios das assembléias representativas. O regime em questão “deu o que tinha que dar”, e deve ceder lugar a outro regime político, dentro dessas concepções. Uma nova sociedade baseada na igualdade de condições, na posse coletiva dos instrumentos de trabalho não se contenta com o regime representativo. Kropotkin deseja uma revolução social que cure os modos de organização política do passado e que corresponda a nova organização econômica. Trata-se da formação crescente de grupos que visam à satisfação de todas as múltiplas necessidades dos indivíduos nas sociedades. O futuro deve ser marcado pelo livre agrupamento e não pela centralização governamental.

Livre de críticas pessoais e conceituais, esse breve texto é um resumo teórico quase literal dos conceitos de Kropotkin, o texto é muito rico em dados históricos que foram descartados neste resumo. Desejo que lhes seja útil, que estimule o aprofundamento crítico das concepções de Kropotkin e que leiam o texto integralmente.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Lênin X O populismo russo

Por: Alessandro R. Chaves

Pessoal, vou contribuir para o nosso blog com um texto sobre a obra O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia, de Lênin – na verdade trata-se da introdução de José Paulo Neto. Porém, não posso deixar de mencionar que tenho grande afinidade com esse autor (Lênin) – tanto em suas reflexões teóricas, quanto em sua tática partidária e, é claro, em sua prática revolucionária que foi de fundamental importância para a Revolução de 1917 – o que me deixa passivo de erros. Certamente os colegas vão se atentar quanto a isso.

Em primeiro lugar, em linhas bem gerais, é necessário compreender o momento histórico do qual estamos nos referindo, ou seja, última década do século XIX na Rússia (Europa Oriental); mas não podemos ignorar o que está acontecendo – ou aconteceu – nos países da Europa Ocidental (Inglaterra, França e Alemanha, principalmente). Nessa parte da Europa (a parte ocidental) o capitalismo consegue avançar e se instalar em proporções nunca antes imaginadas pelo homem do século XIX, e consequentemente avança também o conflito entre proletários e burgueses; é no interior desses conflitos que começam a surgir os partidos social-democratas (comunistas, representantes da classe trabalhadora).Percebe-se que nos países em que o capitalismo se torna sistema dominante, o resutado é uma sociedade urbana diferente da forma rural de tempos anteriores.

É no seio dessa sociedade, onde o capital já é predominante e os conflitos estão cada vez mais nítidos, que Marx e Engels irão desenvolver suas teorias. O que essas nações (em alguns casos, cidades) têm em comum, é que todas – com suas particularidades – seguiram o mesmo processo histórico – entenda-se, feudalismo, capitalismo, de sociedade rural à sociedade urbana, e que para chergar ao próximo passo (para os marxistas, o socialismo) deveriam, essas sociedades, possuírem um alto grau de desenvolvimento das forças produtivas, entre outras complexas coisas.

O fato é que na Rússia, as coisas não estavam acontecendo dessa forma. Em pleno o final do século XIX, a Rússia era um país com enormes caracteristicas feudais, ou seja, uma sociedade ainda rural; tanto que " o problema que se colocava, em primeiro plano, na discussão socialista russa, não era o das premissas do socialismo: era o das premissas do capitalismo". Porém, os acontecimentos no ocidente – 1848 e 1871, principalmente – dão impulsos para movimentos anti-autocrátas na Rússia dos Tsar(es). Outro elemento de extrema importancia, é que em 1894, surge o 3° livro de O Capital de Marx, que irá tratar da questão agrária.

O ano para compreendermos o populismo russo é o de 1861. Nesse ano o governo autocráta elaborou reformas no campo que puseram fim a servidão. O resultado foi um grande número de camponeses que agora desfrutavam da condição de "liberdade". Porém esses indivíduos, agora "livres", não possuíam mais seus meios de subistências; a grande esperança dos que se encontravam nessa situação era o de integrar o MIR – cooperativa de camponeses – que desempenhavam um papel importante naquele momento.
O surgimento do movimento populista russo se dá nessas condições, significa na verdade "ir ao povo". Intelectuais da cidade viam no campo – e no MIR – o local onde estavam postas as condições para o socialismo. Pretendiam não passar pelo capitalismo, o objetivo era sair de uma situação muito próxima ao feudalismo direto para o comunismo. Os camponeses iriam desempenhar o papel do proletáriado no processo revolucionário.

Para escrever O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, e consequentemente se opôr ao populismo, Lênin realizou uma série de pesquisas, recorrendo a bibliografias, a dados da época e a uma extensa pesquisa empírica. Não podemos esquecer que as conclusões de Lênin, não brotam de sua mente, são resultados de uma análise concreta da introdução do capitalismo na Rússia. A crítica que sofrem os populistas – que são chamados de "anticapitalistas românticos" – nascem da incapacidade desse movimento de entender a sociedade russa em sua totalidade.

Pensavam, os populistas, que não haveria mercado interno para o desenvolvimento do capitalismo, pois o campesinato, nas precárias condições que se encontrava, não seriam consumidores. Lênin, atento leitor de Marx e conhecedor da realidade russa, já apontava que "não é a capacidade de consumo que é decisiva, e sim o grau de consumo produtivo, da demanda de sua produção".
De fato não era necessário para a implantação capitalismo que os camponeses viessem a ser um mercado consumidor. Para o capitalismo, era necessária condições para sua reprodução (as aulas de geografia certamente são de grande valor para entender esse fenômeno). Além de ter a oportunidade de "proletarizar" as massas de "camponeses livres".

O resultado da pesquisa de Lênin consegue identificar que o capitalismo já é um fato na Rússia (inviabilizando a teoria dos populistas). De forma lenta, ainda "travado pelo antigo regime", mas já produzindo conseqüências notáveis na sociedade russa, inclusive no campo; onde já ocorre, segundo o autor, uma "desintegração do campesinato" devido a interesses conflitantes.
Vale ressaltar que o movimento populista foi de grande importância para o desenvolvimento do socialismo na Rússia, esse movimento só se viu limitado por não conseguir compreender o movimento real da sociedade russa. Compreensão que Lênin teve – segundo o historiador iugoslavo Pedrag Vranic, a obra do revolucionário russo, permite "examinar melhor que todos os outros marxistas, o movimento real da sociedade russa e a sua estrutura – do que resultam as suas lúcidas avaliações das diversas situações históricas concretas".

Por fim, nas palavras de José Paulo Neto, cabe mais uma vez apreciar o método de Lênin, dizendo que "não se trata, neste livro, de "aplicar" um método preciso – no caso, aquele elaborado por Marx – a uma dada realidade. Antes, o procedimento leniniano consiste, a partir desse método, em agarrar a realidade de modo tal que a sua particularidade não resulte subsumida no reducionismo inerente às instâncias teórico-metodológicas".

domingo, 27 de março de 2011

John Stuart Mill: O Governo Representativo

Pessoal, esse livro é muito difícil e um pouco chato. Esse texto é um resumo do primeiro capítulo. Depois escreverei uma crítica a respeito dele.

Capítulo I: Até que ponto as formas de governo são uma questão de escolha
   Nesse primeiro capítulo, Mill se propõe a tarefa de descobrir se as formas de governo são uma questão de escolha. Para ele, nesse assunto duas opiniões distintas e opostas foram apresentadas: uma que diz que as formas de governo são uma escolha. Já que os homens são os criadores e mantenedores de suas instituições, não há nada que nos impeça de idealizar à vontade a respeito de nossa organização social. Tudo o que se trata de fazer segundo essa teoria é pensar a melhor forma de governo de acordo com nossos objetivos e em seguida persuadir o conjunto da comunidade a adotá-la. A segunda linha teórica afirma que os governos se desenvolvem espontaneamente. Cada povo tem a forma de governo mais adequada a sua constituição, ao nível de seu desenvolvimento intelectual e moral e as coisas se colocam espontaneamente, não sendo possível imaginar outro caráter político aplicável, na verdade, isso não seria uma questão de escolha.
   Mill vai discordar das duas concepções, e propor uma síntese a partir delas.
   Contra a primeira irá objetar que não é plausível apenas idealizar sem levar em conta as especificidades da realidade sobre a qual se pensa. Toda forma de governo necessita de certas características dos indivíduos da comunidade para o seu bom funcionamento. O problema da segunda concepção para o filósofo inglês é que ela determina um fatalismo nas coisas. O governo não é como uma planta que brota naturalmente da terra e que se mantém e cresce naturalmente por atuação de forças da natureza. O governo teve uma origem e também uma trajetória definida pela ação livre dos homens.
   Na busca de uma síntese dessas duas propostas extremas, Mill admite afirmações corretas em cada uma delas. Ele concorda que o governo é resultante de uma ação livre e voluntária dos homens na sua origem e direção. Afirma, porém, que se requer da parte do povo algumas capacidades e atitudes de autocontrole para que o governo possa funcionar.
   Três características seriam fundamentais para verificar se uma forma de governo está adequada para um povo: 1- Esse povo não deve se opor ao governo. Um povo muito rebelde e selvagem que não esteja disposto a obedecer a uma autoridade instituída, não está preparado para um governo livre. Para Mill, um exemplo é o caso dos índios e bárbaros, que não se sujeitariam a não ser pela ação coercitiva.
2- Ser capaz de mantê-lo funcionando e 3- Fazer o necessário para alcançar seus objetivos. Essas duas características estão interligadas. Um povo apático e que não participa do governo, e que não realiza os esforços necessários para preservá-lo, ou um povo que vivendo em uma democracia entrega seu poder a um grande homem em algum momento, não está capacitado para manter a ordem de seu governo funcionando corretamente.
   Outro aspecto, defendido pelo autor é o de que os “maus costumes” de um povo seriam resultado de um governo ruim. E por isso o governo deve estar preparado para lidar de forma diferente de acordo com os costumes da comunidade:
“Um povo tão determinado não pode ser governado com pouco poder como um povo cuja solidariedade está do lado da lei e que tende ajudar diretamente a reforçá-la.”
    No entanto, seria um exagero transformar a ajuda dos bons costumes e de uma moralidade avançada em uma condição necessária para o estabelecimento do governo. Não se trata apenas de alguns ajustes, pode-se propor formas diferentes de governo dependendo de cada caso particular. E a defesa teórica do governo pode ajudar em sua aceitação.
“Recomendar e defender uma instituição em particular ou forma de governo e estabelecer sua vantagens o mais claro possível é um modo geralmente o único modo para conseguir educar a mentalidade da nação não somente para aceitar ou reclamar, mas também para desenvolver a instituição.”
   Outra forma de pensar, entretanto, apresenta mais um provável obstáculo na tentativa de aplicar idéias abstratas sob um governo na prática. A teoria que diz que a distribuição da riqueza na sociedade determinará os rumos políticos da mesma. Vejamos esse ponto de vista:
“Uma nação, portanto, não pode escolher sua forma de governo. Ela pode escolher os simples detalhes e a organização prática, mas a essência do todo, o lugar do poder supremo, é determinado pelas circunstâncias sociais.”
   O autor, porém contesta essa teoria, afirmando que o poder da opinião e da crença são superiores ao da propriedade. O pensamento especulativo seria, segundo ele, um dos elementos principais do poder social. Por isso, afirma:
“O que os homens pensam determina como eles agem;”
E, portanto, os filósofos e pensadores políticos poderiam através da construção de uma boa teoria, convencer os indivíduos poderosos da sociedade a aceitar suas diretrizes, se pudessem ser o mais convincentes possível.
“Aqueles que podem ter sucesso em criar uma persuasão geral sobre certa forma de governo, ou um fato social de qualquer tipo, que merece ter a preferência, possivelmente já tomou os passos mais importantes em direção à abrangência dos poderes da sociedade.”
   Mill chega então a sua conclusão: é possível investigar a melhor forma de governo apropriada para cada caso, de forma abstrata.


sexta-feira, 25 de março de 2011

" O silêncio que precede o esporro "

Por: Zé Pedro
                                                                        
Salve galera!!!!

Primeiramente queria parabenizar a iniciativa do Mike em montar esse blog, fundar um espaço de reflexão extra sala, importantissimo mano... demonstra a preocupação com a qualidade de nosso aprendizado e mostra tambem que lutar em prol dos estudantes se faz de diversas formas! Parabéns Mike, isso é prática.


" O silêncio que precede o esporro " O Rappa
                                                                                

   Ontem 24/03 após a aula de história fiquei pensando sobre a abordagem histórica que o prof. Salomão está nos propondo este ano, e a reflexão caminhou no sentido da importância de um movimento que ao se realizar abre caminho para formulações de grande riqueza, esse movimento chama-se "desconstrução". Tão importante quanto firmar-se em um solo é checar as origens de suas composições pra que ao fundar os alicerces de nossas ideias sejamos criticos na identificação dos reais fatores que resultaram nesta ou naquela linha teorica.

   Rolou um silêncio entre nós quando o prof. abriu pra algum questionamento ou reflexões, e isso foi bom! Fiquei pensando na hora, tinha tantas perguntas, mas parecia que elas estavam fora de contexto, deslocadas, e aos poucos fui percebendo que isso se deve ao olhar de desenvolvimento social do qual bebemos no nosso curso, tem a ver com o olhar diferenciado que o prof. esta propondo! Ex: a questão do etnocentrismo ou como andei pesquisando tambem, a questão do eurocentrismo que diz respeito a principal fonte dos pensamentos ultilizados em nossos estudos acadêmicos.

   Escrevo este pequeno texto para salientar a oportunidade que estamos tento de espraiar nossos conhecimentos sobre nós mesmos e nossos modos de vida, "todo ponto de vista, é a vista de um ponto" se conhecer o pensamento que se desenvolveu a partir da europa é de crucial importância, (e isso é uma afirmação minha!), respirar outros ares se faz necessário para adquirir uma linha teórica coerente, pra isso abrir caminho "desconstruir" é tambem um movimento de construção prática!!!


   Aproveito para socializar um texto que achei facilmente... é pesado!!! mas faz apontamentos no mínimo interessantes sobre essa visão de mundo que se desenvolve a partir de um único ponto.
   Fiquem a vontade para reflexões, pois estamos aqui pra isso! Exercitar a crítica em comunhão com a prática.

    Boa Leitura.
                                                                                                             
                                                                      



                                                                        http://www.espacoacademico.com.br/083/83praxedes.htm

quarta-feira, 16 de março de 2011

Comentando as idéias de Hume

   Por: Mike Martins

1- Contra outros autores: Hume, ao expor essas idéias sobre a natureza do governo e da obediência dos súditos, crítica a posição de alguns autores em determinados momentos. Vejamos alguns exemplos.
   Contra Aristóteles: Aristóteles havia afirmado que o poder monárquico deveria ter surgido de uma adaptação natural pela qual os indivíduos haviam passado na vivência familiar sob a autoridade de uma só pessoa, o pai. Hume contesta e afirma que o governo monárquico é herdeiro da organização militar das tribos.
   "Considero essa explicação mais natural que a comumente extraída do governo patriarcal, ou da autoridade do pai, que ocorreria primeiro na família, acostumando seus membros à autoridade de uma só pessoa." (pg 580)
   Contra Platão: Platão, (por intermédio de Socrátes) no diálogo "Críton", sustenta a tese de que somos obrigados a obedecer ao governo, devido a um consentimento tácito que concedemos ao mesmo quando permanecemos vivendo em seus domínios após alcançar a idade adulta. Ou seja, seria o mesmo que dizer: "Se você continuou morando aqui é porque concorda com o que fazemos." A opinião de Hume, porém, é diferente:
"Se disserdes que, permanecendo em seus domínios, as pessoas de fato dão seu consentimento ao governo estabelecido, responderei que isso só poderia ocorrer se elas pensassem que a questão depende de sua escolha, coisa que poucos ou ninguém, além deses filósofos, jamais imaginou." (pg 588)
   Contra Locke: Procurando afastar Deus da base das idéias do direito natural, o filósofo escocês, critica a concepção de Locke, que afirma que as leis naturais são anteriores às convenções humanas:
"Desse modo, aproveitando-se da antiguidade e da origem obscura dessas leis, eles primeiramente negam que elas sejam invenções humanas, artificiais e voluntárias, e em seguida procuram enxertar nelas aqueles outros deveres que são mais claramente artificiais." (pg 582)
   Contra Hobbes: Hobbes acreditava que sem o governo os homens não poderiam viver em paz. Hume discorda:
"Embora o governo seja uma invenção muito vantajosa, e mesmo, em algumas circunstâncias, absolutamente necessária para a humanidade, ele não é necessário em todas as circunstâncias; não é impossível preservar a sociedade durante algum tempo sem recorrer a essa invenção." (pg 578)
2- Para mim o problema nas três leis fundamentais que o autor enuncia: (estabilidade das posse, a sua transferência por consentimento e ao cumprimento de promessas), se encontra não somente na defesa da propriedade privada. O problema é que ela seja o objetivo único da sociedade. O problema é que o homem nesse caso está reduzido a necessidades mínimas.
   Se os indivíduos de uma época ainda conseguem concordar com a idéia de que, o que o ser humano precisa, é unicamente paz e uma legislação adequada para os negócios, não me surpreende que o governo que eles tem não seja dos "melhores".

3- Uma coisa muito importante que devemos observar é que a política é reflexo da sociedade, e não o contrário.
   Vejamos com um outro olhar as mudanças no pensamento político com o tempo.
   Para Maquiavel, a única coisa que pode manter a fidelidade do povo são as armas. É preciso ameaçá-lo e/ ou manipula-lo.
   Para Hobbes, os homens são capazes de fazer um contrato e chegar a um acordo através da razão.
   Para Locke, os homens são bons por natureza e devem apenas transferir o seu direito de punir os crimes para o Estado, para evitar excessos.
   Para Hume, os homens encontram no interesse da maioria o dever de obedecer ao Estado.
   Veja, o homem era quase indomável, passou a ser capaz de pensar de vez em quando, melhorou mais, tendo o problema de apenas cometer alguns excessos, até que encontrou em sua consciência a sociedade burguesa.
   Esses autores, então, apenas analisaram a sociedade ou serviram para modificá-la?